1º Jantar Vínico Vinho no Bigode [Portugal D'Ouro]

06/12/2019 
1º Jantar Vínico Vinho no Bigode

Um "Chef em Tua Casa" (thanks fb @chef.kiko15) e um grupo de amigos estiveram presentes para uma experiência de "Portugal D'Ouro"!







Em 5 momentos gastronómicos, o Douro ia-se batendo com várias regiões do país. Para cada prato, teríamos sempre um duelo de vinhos e, no final, o pessoal escolhia o seu favorito.

A única excepção foi feita para as entradas.



Por entre o folhado de alheira com molho agridoce, os ovos recheados, o romeu e julieta e o melão com presunto, escolhi um espumante Terras do Demo Touriga Nacional Bruto.
Tínhamos a crocância do folhado, a textura dos ovos, doce da marmelada e agridoce da fruta/salgado. Tudo diferentes sabores e texturas (muitas delas complicadíssimas de harmonizar).
A escolha óbvia e mais acertada nestes casos seria sempre um espumante.
O espumante tem a acidez e bolha que nos ajuda a limpar o palato para o próximo elemento.
Este Terras do Demo correspondeu perfeitamente e continua a ser um dos meus favoritos na sua gama de preço.






 Seguiu-se o primeiro prato: Pregado no forno com crosta de citrinos e legumes salteados.
Aqui tínhamos um duelo de Sauvignon Blancs. Lavradores de Feitoria (Douro) vs Quinta dos Abibes (Bairrada).
Esta casta é perfeita para pratos mais leves e com alguma acidez (aqui tínhamos os legumes e a crosta de citrinos).
O nariz dos Abibes foi dos melhores da noite (fresco e floral como nenhum outro), no entanto, na boca revelou-se demasiado seco e curto.
Houve aqui uma questão importante: o molho de natas.
Sendo que o Lavradores de Feitoria apresentou a mesma acidez, mas mais cremosidade e volume de boca que o bairradino, acompanhou este prato na perfeição.
Douro 1-0 Outras Regiões.





Para o momento seguinte tínhamos o Risotto de espargos com magret de Pato.
Este seria provavelmente o prato mais complicado de harmonizar uma vez que tentei fazer aqui a transição de brancos para tintos.
A ideia foi sempre ter um branco vs tinto, e assim foi.
Tinha medo que os espargos pudessem atrapalhar pois são conhecidos como um "inimigo" do vinho. Causam a sensação de "amargor na boca" e podem aniquilar qualquer harmonização:
“Asparagus makes everything you drink with it taste green.” - Wine Lover's cookbook
“Certain chemicals in asparagus can make your wine taste vegetal, grassy, or just plain rotten." - Epicurious.com

Por norma, os Sauvignon Blancs funcionariam, mas tinha aqui a cremosidade e peso do Risotto que pediam um vinho com acidez mas mais estruturado um pouco.
Pelo que disse em cima, ainda pensei em brancos com madeira, mas não sabia o "peso dos espargos no prato".

Desta forma, tivemos um Quinta da Pedra Escrita Branco a representar o Douro (por já apresentar alguma estrutura sem madeira vincada) e um Rosa da Mata Alfrocheiro em representação do Dão.
No final, os espargos não atrapalharam e o tinto do Dão foi consensual à mesa. Quase todos preferiram o tinto aqui! Dão a empatar o placard!
Douro 1 - 1 Outras Regiões

O Alfrocheiro é mesmo uma casta singular e este Rosa da Mata é uma excelente demonstração da mesma.
Conseguiu ser elegante para o magret de pato e toque vegetal no prato, e ter a frescura e força necessária para todo o queijo do risotto.
Foi uma das melhores harmonizações da noite.
Que grande vinho! E que grande homenagem à sua avó!





A noite já ia longa mas ainda tínhamos um prato incrível pela frente.
Agora sim, íamos ganhar pelugem no bigode/buço!
O chef Kiko decidiu apresentar-nos um Naco de Vitela lardeado com bacon em redução de vinho com batata gratinada, trilogia de cogumelos salteados e cenoura bebé glaciada!
Os tintos tinham de ir à mesa!
Aqui tivemos o Douro a apresentar-se com um Quinta da Zaralhôa 2011, contra um Herdade dos Arrochais Reserva 2015 em representação do Alentejo.
Duas regiões que dividem opiniões, que cada vez mais têm projetos a fugir do perfil típico, que são das mais conceituadas em Portugal.



Zaralhôa num corte clássico do Douro: 25% de 4 castas - Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz e a Tinta Barroca a entrar aqui no blend.
Arrochais com Alicante Bouschet, Syrah e Alfrocheiro a entrar nas contas também.

Dois vinhos completamente diferentes mas que dividiram as opiniões à mesa. Foi o duelo mais renhindo da noite.
O Douro mostrava elegância e frescura notáveis. Alentejo com toda a opulência e toque a especiaria para aguentar o naco de vitela.
Comemos pausadamente, ambos foram abrindo no copo, algumas pessoas da mesa mudaram opiniões. A verdade é que o Zaralhôa abriu para um patamar superior, conseguindo evidenciar-se aqui!
Estrutura no copo sem perder a frescura e elegância, fruta negra, tabaco, cacau, complexo e equilibrado. Que vinho soberbo! Para mim foi o vinho da noite.
A verdade é que convenceu  o resto da mesa também e Douro conseguiu desempatar.
Douro 2 - 1 Outras Regiões









Faltava a cereja no topo do bolo, a sobremesa.
Dei uma folga ao chef Kiko e encomendei uns "abadinhos" da Tia Bina (facebook O Pudim da Tia Bina), que são compostos por massa filó e recheio de pudim abade de priscos.
A ideia era servir uma sobremesa típica de Braga, com um twist.
Não sabia exactamente como seriam os abadinhos, mas imaginei que o recheio de pudim abade de priscos fosse complicado para harmonizar por causa da extrema doçura.
Nesse sentido, acreditei que um vinho Madeira contra um vinho do Porto pudesse ser um bom duelo.

A representar a Madeira, um Blandy's Malvasia 10 anos.
Do lado do Douro, íamos ter um colheita da Quinta de Santa Eufémia mas houve uma surpresa final e o colheita irá certamente brilhar noutro momento.
No início do dia tinha aberto um Ferreira Vintage 1980 e fui vendo a sua evolução... Tinha medo porque comprei uma das muitas garrafas em mega desconto numa casa centenária do Porto. Muitas já apresentavam a típica "baba" e esta pareceu-me das que estava em melhores condições...
Pois bem, escolha acertada pois estava em excelente forma!

Aqui sempre achei que o recheio do pudim pedisse a acidez de um Madeira mas, a verdade é que os abadinhos tinham pouco recheio revelando-se mais a massa crocante do que propriamente a doçura, pelo que o Porto venceu aqui também.
O jogo poderia ter terminado empatado, mas o Douro conseguiu "marcar" nos descontos.
Douro 3 - 1 Outras Regiões







Que noite!

Agradeço o trabalho incrível do chef Kiko que esteve mais de 6h na cozinha para nos proporcionar esta experiência fenomenal!

Os vinhos tinham de estar à altura, e creio que estiveram.
Boas relações qualidade-preço também.

Aos presentes, o meu obrigado por esta noite tão animada e gratificante.
2020 certamente que irá trazer mais eventos do género. Isto foi só o início amigos!



Boas festas a todos!
Vinho no Bigode

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